“É um sacerdote segundo o Meu Coração. (…) Por ele agradou-Me divulgar a honra à Minha misericórdia”
Jesus. Diário, 1256.
“Pelos seus esforços, uma nova luz brilhará na Igreja de Deus para a consolação das almas”
Santa Faustina. Diário, 1390.
O Beato Pe. Miguel Sopoćko, confessor e diretor espiritual da Irmã Faustina, esteve diretamente ligado ao mistério das revelações de Jesus Misericordioso. Deus confiou-lhe um papel extremamente importante, que foi o cumprimento da missão que Jesus transmitiu à Irmã Faustina. Dedicou quase toda a vida a essa causa.
Miguel Sopoćko nasceu numa família nobre, no dia 1 de novembro de 1888, em Nowosady, na Lituânia. Desde os anos da infância que foi educado num ambiente de profunda religiosidade e tradição patriótica. A sadia moral dos pais, a sua profunda piedade e amor para com os filhos contribuíram para o desenvolvimento espiritual adequado de Miguel e de seus irmãos. O ambiente religioso presente na casa dos Sopoćko despertou nele, desde a infância, uma ardente piedade e o desejo de dedicar-se ao serviço de Deus no sacerdócio.
Em 1910, Miguel Sopoćko iniciou os estudos no seminário que duraram quatro anos. Não podia contar com a ajuda material da família e foi apenas graças a uma ajuda oferecida pelo reitor que pode continuar. No dia 15 de junho de 1914 foi ordenado sacerdote.
Após a ordenação sacerdotal, foi enviado para a paróquia de Taboryszki, perto de Vilnius (Lituânia), com a função de coadjutor. Para além das obrigações desempenhadas, pediu que lhe fosse permitido dirigir a catequese dominical com os mais jovens. O primeiro ano do seu trabalho pastoral foi coroado com a solene Primeira Comunhão, na qual participaram cerca de 500 crianças.
No verão de 1915, passou por Taboryszki a frente da guerra russo-alemã. Apesar das ameaças da guerra, o Pe. Sopoćko pode celebrar Missas durante esse período e ainda participar na vida dos paroquianos. Durante a sua estadia em Taboryszki, o Pe. Sopoćko desenvolveu também atividades culturais, abrindo escolas novas nas localidades vizinhas. Com o tempo, isso tornou-se motivo de perseguição por parte das autoridades da ocupação alemã, que no início se mostraram muito tolerantes perante a sua atividade e até a apoiavam materialmente. No entanto, com o passar do tempo essa relação piorou até que, por fim, as autoridades alemãs começaram a dificultar as viagens do Pe. Sopoćko a Vilnius com o objetivo de trazer professores para as escolas que estava a abrir. Deste modo acabaram por obrigar o Pe. Miguel a deixar Taboryszki.
Em 1918, o Pe. Miguel obteve das autoridades eclesiásticas de Vilnius uma autorização para viajar para Varsóvia, onde se matriculou na Faculdade de Teologia da universidade local. Porém, a doença e a situação política da Polónia impediram-no de iniciar o curso. Quando, após a reconvalescença, o Pe. Sopoćko voltou a Varsóvia para iniciar o curso, a universidade tinha sido fechada por causa da guerra. Então, apresentou-se como voluntário para trabalhar na pastoral militar. O bispo das forças armadas polacas nomeou-o capelão militar e encaminhou-o para o trabalho pastoral no Hospital Militar de Varsóvia, que estava então a ser organizado.
Passado um mês, pediu para ser enviado para a frente de batalha, para o Regimento de Vilnius. Imediatamente iniciou o trabalho pastoral entre os soldados que lutavam na frente. Para além de celebrar os sacramentos, ajudava ainda os feridos que não tinham acesso a cuidados hospitalares e se encontravam numa situação muito difícil. Após longas marchas com o exército, o Pe. Sopoćko começou a ter problemas de saúde. Por esse motivo foi enviado para ser tratado no hospital militar onde, durante algumas semanas de convalescença, prestou assistência espiritual aos doentes. Quando já estava curado, foram-lhe atribuídas as funções de capelão militar no Campo de Treino para oficiais, em Varsóvia. Entre as suas obrigações contavam-se: conferências semanais sobre religião e moral para os oficiais e suboficiais de diversas formações, bem como a assistência religiosa em dois hospitais militares.
Durante os cursos que promovia, abordava questões dogmáticas e da história da Igreja. Promovia o ensino do catecismo e abordava temas atuais relacionados com o serviço militar. A problemática religiosa e moral por ele abordada nos cursos foi avaliada positivamente pelos superiores. O Ministério da Guerra publicou essas preleções, obrigando os oficiais a transmitir o seu conteúdo aos recrutas de todos os destacamentos.
Em outubro de 1919, apesar da guerra continuar, reiniciaram-se as atividades da universidade. O Pe. Sopoćko matriculou-se no curso de teologia moral e em aulas de direito e filosofia. Além disso, dedicou-se ainda à organização de atividades sociais. Cuidava do funcionamento da Ajuda Fraterna Militar (da qual era presidente), do albergue militar e de uma escola militar para órfãos de famílias de militares. No verão de 1920, foi testemunha do colapso da frente de batalha e logo depois, já em Varsóvia, vivenciou a heroica defesa da cidade e a vitória contra a ofensiva soviética. Anos depois o Pe. Sopoćko, nas suas Memórias, comentaria esse acontecimento como uma extraordinária obra da Providência Divina e sinal da Misericórdia Divina para a Polónia, obtida através das orações dos fiéis que, no mês de agosto, acorriam em multidões às igrejas.
A desempenhar a função de capelão militar e a estudar teologia moral, o Pe. Sopoćko começou ainda um curso adicional no Instituto Superior de Pedagogia. Em 1923 obteve o grau de mestre em teologia e dedicou-se mais à área da pedagogia. O resultado das suas pesquisas relacionadas com a influência do álcool sobre o desenvolvimento intelectual dos jovens serviu de base para escrever a sua tese intitulada “O alcoolismo e a juventude escolar”, que coroou os seus estudos no Instituto de Pedagogia.
O bispo de Vilnius, D. Jerzy Matulewicz, conhecendo os méritos e os feitos do Pe. Sopoćko, e também informado a respeito da preparação teológica e pedagógica do capelão, pretendia recuperá-lo para trabalhar na sua diocese. Inicialmente queria confiar-lhe a organização da pastoral da juventude extraescolar. O Pe. Miguel aceitou a proposta do bispo e decidiu voltar a Vilnius.
A decisão formal ocorreu no outono de 1924. Por força dela, o Padre Sopoćko foi nomeado Diretor da Região Militar Pastoral de Vilnius, que incluia 12 unidades autónomas, contando no total mais de 10 mil soldados. A transferência do Pe. Sopoćko para Vilnius era uma promoção, mas ao mesmo tempo impunha-lhe maiores tarefas e responsabilidade. O trabalho pastoral do Pe. Sopoćko como capelão militar foi reconhecido pelo marechal Józef Pilsudski.
Apesar das numerosas tarefas pastorais, o Pe. Sopoćko continuou os seus estudos de teologia à distância, preparando a sua tese de doutoramento em teologia moral intitulada “A família e a legislação nas terras polacas”. Defendeu a tese de doutoramento no dia 1 de março de 1926. Após a ob-tenção do doutoramento, o Pe. Sopoćko pretendia escrever uma outra dissertação, desta vez como requisito para a função de professor. A dedicação à pesquisa científica exigia o conhecimento de línguas estrangeiras, por isso estudava alemão, francês e inglês. As catequeses e as conferências do capelão militar Pe. Sopoćko apresentadas aos soldados em língua russa também despertavam um grande interesse entre os fiéis.
Em 1927 e 1928, exercendo sempre as funções de diretor da pastoral da Região Militar, foram atribuídas ao Pe. Sopoćko outras funções de grande responsabilidade: a de diretor espiritual do seminário e a de chefe da cátedra de teologia pastoral da Universidade de Vilnius. Estas novas obrigações obrigaram-no a afastar-se gradualmente da pastoral militar.
Como diretor espiritual do seminário, era ao mesmo tempo moderador da Confraria Mariana, do Círculo Eucarístico, da Ordem Terceira de S. Francisco e do Círculo dos Seminaristas da União Missionária do Clero. Um outro trabalho exercido nesse período e que se estendeu por todo o tempo da permanência do Pe. Sopoćko em Vilnius era o de confessor de irmãs religiosas.
Após obter a dispensa parcial da pastoral militar, além da função de diretor espiritual no seminário, a sua ocupação eram as aulas e o trabalho científico. Visto que na época havia falta de manuais adequados, ele mesmo preparava sebentas com as matérias por ele lecionadas. Estas eram duplicadas pelos estudantes e durante muitos anos serviram de material de apoio ao estudo.
As pesquisas científicas do Pe. Sopoćko estavam relacionadas principalmente com a preparação da sua tese de professor titular e referiam-se a questões de educação e formação religiosa. A fim de recolher materiais para a tese que escrevia, no verão de 1930 fez uma viagem até diversas bibliotecas da Europa Ocidental. Esta viagem foi proveitosa para o Pe. Sopoćko, quer no aspecto científico, quer no religioso, visto que visitou ainda lugares de culto e centros de vida religiosa.
Além do trabalho relacionado com a redação da tese, também escrevia artigos científicos na área da teologia pastoral, artigos para a enciclopédia eclesiástica, fazia conferências científicas e dedicava-se à atividade jornalística.
Envolvendo-se cada vez mais no trabalho científico, pediu para ser dispensado das funções de capelão e de diretor espiritual. Com alguma resistência inicial, o bispo das forças armadas e o arcebispo concordaram em dispensá-lo dessas tarefas. Em setembro de 1932, o Padre Sopoćko mudou-se para o convento das Irmãs da Visitação, onde concluiu a sua tese, cujo título era “O objetivo, o sujeito e o objeto da educação religiosa segundo M. Leczycki”. Com base nesse trabalho, no dia 15 de maio de 1934 obteve o título de professor titular. O Ministério das Religiões e da Instrução Pública nomeou-o então docente da Universidade de Varsóvia e depois de receber esse título foi transferido para a Cátedra de Teologia Pastoral da Universidade Stefan Batory, em Vilnius.
Desde 1932 que o Pe. Sopoćko era confessor das Irmãs da Congregação de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia, que tinham então em Vilnius a sua casa religiosa. Ali, em 1933, encontra a Irmã Faustina Kowalska que se torna sua penitente. Este encontro seria muito significativo para o resto da sua vida e para a sua futura missão. Na pessoa da Irmã Faustina ele encontrou uma devota da Misericórdia Divina, cujas graças ele próprio diversas vezes experienciou. Tendo encontrado no Pe. Sopoćko um confessor e diretor espiritual culto, começou a apresentar-lhe cada vez mais detalhadamente as suas vivências e visões relacionadas com as revelações do Misericordioso Salvador. Devido à sua falta de tempo, pediu-lhe que escrevesse num caderno as suas experiências interiores. Nos tempos livres examinava o texto escrito.
Assim surgiu o “Diário” espiritual de Santa Faustina. Aludindo às revelações que tinha tido do Salvador ainda antes de ir para Vilnius e depois em Vilnius, a Irmã Faustina contava ao Pe. Sopoćko as ordens recebidas durante estas. Era exigido que se pintasse uma imagem do Misericordiosíssimo Salvador e se instituísse a festa da Misericórdia Divina no primeiro domingo depois da Páscoa, bem como se fundasse uma nova ordem religiosa. Com o passar do tempo veio a verificar-se que a Providência Divina confiara a realização destas tarefas ao Pe. Sopoćko.
Em julho de 1934, o Pe. Sopoćko tornou-se reitor da igreja de S. Miguel, em Vilnius, acontecimento que em anos posteriores ganhou um profundo significado. Foi nessa igreja, no dia 4 de abril de 1934, que, atendendo ao pedido expresso de Jesus , foi benzida e exposta a primeira imagem de Jesus Misericordioso. A Irmã Faustina deixou Vilnius em março de 1936. Permanecendo em contacto epistolar com ela e também visitando-a em Cracóvia, o Padre Sopoćko ia realizando a Obra confiada também a ele de apresentar ao mundo o mistério da Misericórdia Divina.
Com base na doutrina da Igreja, continuou a pesquisa de fundamentos teológicas para a existência do atributo da misericórdia em Deus, bem como bases para a instituição da Festa Misericórdia, ordenada nas revelações. Os resultados das suas pesquisas e argumentações a favor da instituição da festa foram apresentados em revistas teológicas e em trabalhos especiais sobre a ideia da Misericórdia Divina. Em junho de 1936, publicou em Vilnius a brochura “A Misericórdia Divina”, com a Imagem de Cristo Misericordioso na capa. Enviou essa sua primeira publicação principalmente aos bispos reunidos na conferência episcopal em Czestochowa, mas de nenhum deles obteve resposta. Em 1937, publicou em Poznan uma outra brochura, intitulada “A Misericórdia Divina na liturgia”.
Com a ideia da Misericórdia Divina estava relacionada também a construção de uma nova igreja em Vilnius com esta invocação. Em 1938 foi formado o Comité de Construção da igreja da Misericórdia Divina, que rapidamente obteve a confirmação da Administração da região e do arcebispo R. Jalbrzykowski. Com o início da guerra e a ocupação de Vilnius pelo exército soviético, surgiu uma nova situação política que veio interromper e impossibilitar as atividades iniciadas. O exército soviético roubou os materiais de construção recolhidos. Perdeu-se também o dinheiro destinado à construção depositado em bancos. Ainda em 1940, o Pe. Sopoćko esforçou-se por conseguir das autoridades ocupantes pelo menos autorização para construir uma capela, não tendo porém conseguido essa mesma autorização.
A difícil situação da guerra, que envolvia cada vez mais amplamente o território da Europa e atingia a população de muitas nações, assim como o mal que com ela se propagava fortaleciam cada vez mais a convicção do Pe. Sopoćko a respeito da necessidade da compaixão de Deus para com o mundo. Por isso, ainda com maior convicção, começou a proclamar a ideia da Misericórdia Divina, na qual via a salvação para o mundo. Os párocos de Vilnius e também de fora da cidade convidavam-no para fazer conferências. Na Quaresma, durante as celebrações da Paixão, pregava na catedral de Vilnius homilias sobre a Misericórdia Divina às quais acorriam multidões de fiéis de toda a cidade e que tinham ampla repercussão em toda a região.
Nesse tempo, o Pe. Sopoćko iniciou também a redação de um tratado sobre a ideia da Misericórdia Divina e sobre a festa em sua honra: “De Misericordia Dei deque eiusdem festo instituindo” [Da Misericórdia de Deus e da instituição da Sua festa]. Tinha sido incentivado a fazer esse trabalho ainda antes da guerra pelo cardeal August Hlond, ao qual tinha apresentado as suas pesquisas relacionadas com a causa da Misericórdia Divina.
Enquanto isso, em junho de 1940 a Lituânia foi novamente ocupada pelo Exército Vermelho e, um mês depois, anexada à União Soviética como sua décima quinta república. O Pe. Sopoćko viu-se forçado a interromper os encontros dos grupos a que prestava assistência. Foi também privado da possibilidade de publicar um tratado sobre a Misericórdia Divina. Veio ajudá-lo Jadwiga Osinska que, como conhecedora de filologia clássica, tratava da parte linguística do tratado e que, clandestinamente e com a ajuda de conhecidos seus, prontificou-se a copiar o trabalho. Em seguida cuidou que exemplares da obra chegassem a diversas pessoas que tinham a possibilidade de viajar para fora de Vilnius. Desse modo, a obra do Pe. Sopoćko espalhou-se por muitos países da Europa e do mundo.
Por ser o divulgador da ideia da Misericórdia Divina e propagador do seu culto, o Pe. Sopoćko era procurado pela Soviética. Avisado por uma funcionária do escritório de registro, conseguiu evitar a prisão. Por questões de segurança teve de sair de Vilnius. Assim que a ameaça passou, voltou à cidade e começou a dar aulas no seminário onde, apesar das difíceis condições materiais e habitacionais, se tinha iniciado o novo ano académico de 1940/41. Novamente fixou residência junto à igreja de S. Miguel onde estava localizada a imagem do Misericordiosíssimo Salvador, envolta de cada vez maior veneração.
No dia 22 de junho de 1941 rebentou a guerra russo-alemã. Em breve Vilnius voltou a encontrar-se sob uma nova ocupação. A população judaica foi então submetida a uma especial discriminação. O Pe. Sopoćko prestava também apoio material e espiritual aos judeus. Tal tipo de procedimento podia ter consequências perigosas, até mesmo a perda da vida. A Gestapo descobriu pistas da sua atividade e chegou a mantê-lo preso por alguns dias.
No final do ano de 1941, os alemães intensificaram o terror da ocupação. No último domingo do Advento, a pretexto de uma suposta epidemia, fecharam todas as igrejas de Vilnius e em sequência disto, no dia 3 de março de 1942, empreenderam uma larga ação contra o clero. Prenderam professores e estudantes do seminário e quase todos os padres que trabalhavam em Vilnius. Na mesma altura, os agentes da Gestapo prepararam também uma armadilha na residência do Pe. Sopoćko. Avisado pela sua empregada, conseguiu ainda chegar à Cúria Arquiepiscopal, onde informou o arcebispo sobre o perigo em que se encontrava. Pediu a dispensa das suas funções no seminário e uma bênção para o período em que deveria permanecer escondido.
Disfarçado, deixou Vilnius em direção ao convento das Irmãs religiosas Ursulinas em Czarny Bór, a quatro quilómetros de distância. As Irmãs esconderam-no numa casa que alugavam numa ponta da floresta. A Gestapo procurou-o por quase toda a Lituânia, perguntando por ele principalmente em casas paroquiais e por entre os padres. Através de pessoas de confiança recebeu um bilhete de identidade falso com o nome Waclaw Rodziewicz. A partir de então passou por carpinteiro e marceneiro, fabricando ferramentas simples e utensílios para a população local. Todos os dias, nas primeiras horas da manhã, celebrava a Santa Missa e em seguida tinha muito tempo para a oração e a reflexão pessoal.
De duas em duas semanas dirigia-se à casa das Irmãs em Czarny Bór para as atender em confissão. Além disso, dedicava-se ao trabalho científico, com base nos textos que lhe eram entregues por Osinska e suas companheiras.
No outono de 1944, apesar das condições de vida extremamente difíceis, o arcebispo Jalbrzykowski confiou-lhe o reinício das aulas no seminário. Após dois anos de vida escondida, o Pe. Sopoćko regressou a Vilnius e assumiu as tarefas que lhe foram confiadas. Todos os domingos, juntamente com outros professores e alunos, viajava até às paróquias das aldeias com o objetivo de recolher produtos agrícolas para a subsistência do seminário. O Pe. Sopoćko envolveu-se também no trabalho pastoral fora de Vilnius, aproveitando para difundir a ideia da Misericórdia Divina.
Apesar da postura anticlerical, as autoridades da República no início toleravam a atividade pastoral dos sacerdotes. No entanto, com o passar do tempo, começaram a restringir o seu trabalho, especialmente a catequese dos jovens e das crianças. Os encontros nas paróquias eram realizados na clandestinidade, mas mesmo assim as autoridades recebiam informações sobre eles. Por esse motivo, o Pe. Sopoćko foi chamado à esquadra da polícia. Surgiu o perigo real de serem adotadas medidas de coação contra ele, incluindo a possibilidade de exílio na Sibéria.
Em julho de 1947, o Pe. Sopoćko recebeu do arcebispo R. Jalbrzykowski, que se encontrava em Bialystok, na Polónia, um convite providencial para ir trabalhar na Polónia. Decidiu então abandonar Vilnius o mais depressa possível, tanto mais que estava a chegar ao fim o período definido para a repatriação dos polacos da Lituânia. Visitou a capela de Nossa Senhora da Misericórdia em Porta da Aurora e, no final de agosto de 1947, entrou no último transporte de população polaca que deixava Vilnius em direção à Polónia. Chegado a Bialystok, o Pe. Sopoćko apresentou-se ao arcebispo Jalbrzykowski com o objetivo de receber ordens para assumir novas funções.
No final de setembro de 1947, foi passar alguns dias em Myslibórz, onde Jadwiga Osinska e Izabela Naborowska (as primeiras Madres da Congregação fundada pelo Pe. Sopoćko) estavam a organizar o início da sua vida religiosa comunitária. Esse foi o primeiro encontro com as Irmãs após a partida delas de Vilnius. A partir de então, o Pe. Sopoćko manteve contacto permanente com elas, prestando-lhes conselhos, apoio espiritual e material.
Em outubro de 1947, iniciaram-se as aulas no seminário de Bialystok. O Pe. Sopoćko dava as mesmas aulas que em Vilnius: catequética, pedagogia, psicologia e história da filosofia. Mas o trabalho e a sua presença no seminário não se limitaram às aulas. Era também o confessor dos seminaristas. Muitas vezes, a pedido do diretor espiritual, pregava-lhes retiros. Ao mesmo tempo desenvolvia atividade pastoral, religiosa e sociocultural. Uma parte importante da sua atividade era o trabalho contra o alcoolismo.
A obra que mais o envolvia e que lhe era a mais querida era a divulgação do culto da Misericórdia Divina, do qual foi devoto e fiel até o fim. Não se deixou desencorajar pela resistência das autoridades eclesiais à aprovação do culto devido às irregularidades na devoção espontânea que se difundia entre o povo. Causa disto foram as diversas publicações que surgiram e nem sempre abordavam a ideia da Misericórdia Divina de forma adequada. O Pe. Sopoćko corrigia incansavelmente os erros e esclarecia os fundamentos teológicos desse culto.
Tal como em Vilnius, também em Bialystok o Pe. Sopoćko era confessor de Irmãs religiosas. Confessava, por exemplo, as Irmãs da Congregação das Missionárias da Sagrada Família, que tinham então casa na Rua Poleska. Ao prestar ali assistência espiritual, apercebeu-se da possibilidade de estendê-la aos moradores das redondezas. Graças aos seus esforços, no dia 27 de novembro de 1957, na solenidade de Cristo Rei, realizou-se a bênção da capela da Sagrada Família na casa das Irmãs.
Depois de se reformar, o Pe. Sopoćko passou a residir na casa das Irmãs Missionárias da Sagrada Família onde ainda realizou trabalho pastoral. Os fiéis eram atraídos pela sua rica personalidade sacerdotal, espiritualidade e autoridade provenientes de experiências de vida únicas, para além da sua grande modéstia pessoal.
No final dos anos 50, o Pe. Sopoćko tomou mais uma iniciativa de construir uma igreja, desta vez em Bialystok. Conseguiu comprar um terreno com uma casa, tendo coberto quase a metade dos custos com as próprias poupanças. À igreja projetada juntou o plano que já tinha em Vilnius de construir um santuário sob a invocação da Misericórdia Divina. Porém, também desta vez teve de conformar-se com o desmoronar das suas intenções. Enquanto pregava um retiro a padres, em 1958, o Pe. Sopoćko sofreu uma lesão no nervo facial. A partir de então, falar em voz alta para uma grande audiência custava-lhe grandes esforços. Deixou também uma marca na sua saúde um acidente automobilístico que sofreu em 1962, em Zakopane, onde participava num encontro de professores de teologia pastoral. Tornou-se forçoso passar à reforma, o que apanhou de surpresa o Pe. Sopoćko. Sempre ativo, envolvido em inúmeros trabalhos e tarefas, pela primeira vez na vida, à exceção do período em que se escondeu em Czarny Bór, dispunha de um tempo ilimitado exclusivamente à sua disposição.
Exercendo o ministério sacerdotal na capela da Rua Poleska, dedicou-se então à conclusão dos trabalhos relacionados com a ideia da Misericórdia Divina que tinha iniciado. Como tinha mais tempo, começou a aprofundar a ideia da Misericórdia Divina. Possuía muitos materiais recolhidos e trabalhos iniciados, além de novas ideias. Por isso dedicou-se com afinco à escrita. Como resultado, escreveu uma série de obras, entre as quais ocupa lugar de destaque a obra em quatro volumes: “A Misericórdia de Deus nas Suas obras”. Esta obra foi traduzida em inglês e publicado graças à generosidade de pessoas dedicadas à causa da Misericórdia Divina residentes no Ocidente. O primeiro volume em língua polaca foi publicado em Londres, em 1959, e os restantes três nos anos 60 em Paris.
Uma circunstância importante que estimulava o envolvimento do Pe. Sopoćko era o desenvolvimento constante da devoção à Misericórdia Divina, bem como o interesse de outros teólogos por essa ideia. Um outro impulso e estímulo importante para o trabalho missionário em prol da Misericórdia Divina foi o início do processo informativo da Irmã Faustina Kowalska, em 1965, pelo arcebispo de Cracóvia Karol Wojtyla . O Pe. Sopoćko também foi envolvido nesse processo, apresentando-se no papel de testemunha.
O Pe. Sopoćko viveu até ao belo jubileu dos 60 anos do seu ministério sacerdotal. Esta solenidade, no parecer e na avaliação de muitos participantes, foi uma recompensa moral muito atrasada para o venerável sacerdote dedicado à causa Divina, especialmente à divulgação da ideia da Misericórdia Divina.
O único sinal de reconhecimento pelos diversos méritos do padre aniversariante para a Igreja e a arquidiocese foi a sua nomeação de cónego do Capítulo da Basílica Metropolitana, em 1972, quando já estava no ocaso da vida.
Durante toda a sua vida, o Pe. Sopoćko foi um homem de ação com firme fundamento espiritual. Quando lhe começou a faltar a destreza física e vieram as doenças, a esfera espiritual tornou-se na área do seu envolvimento e serviço às causas Divinas.
As citações de leituras deixadas no seu Diário testemunham que era justamente assim que ele entendia o seu último ministério:
“A velhice deve ser tratada como uma vocação a um amor mais profundo a Deus e ao próximo. Deus tem, em relação aos idosos, novos planos de aprofundamento da pessoa, revelando-lhes face a face a sua vida interior. O único ato eficaz de que então somos capazes é a oração. Nessa ativa passividade tudo se prepara, tudo se decide, tudo se elabora. O céu será a recitação do PAI NOSSO.”
Apesar dos esforços recíprocos para que o Pe. Sopoćko passasse o período final da sua vida na casa geral da Congregação por ele fundada das Irmãs de Jesus Misericordioso em Gorzów Wielkopolski, devido a problemas de saúde que o afetavam e que em grande medida lhe dificultariam a adaptação ao novo ambiente, permaneceu até ao fim da vida em Bialystok. Faleceu na noite de sábado, 15 de fevereiro de 1975, no seu quarto da Rua Poleska, no dia da memória de Santa Faustina, padroeira da Irmã Faustina Kowalska, sem ter visto a aprovação da Igreja da nova forma de culto à Misericórdia Divina.
Em 1959, a Congregação do Santo Ofício (hoje Congregação para a Doutrina da Fé) proibiu a propagação das imagens e escritos que apresentassem o culto da Misericórdia Divina tal como o apresentou a Irmã Faustina, devido à divulgação de traduções incorretas. O Pe. Sopoćko submeteu-se humildemente à decisão do Vaticano, dedicando-se sobretudo ao trabalho científico, justificando as bases teológicas deste culto.
Apenas passados precisamente três anos da morte do Pe. Sopoćko, no dia 15 de fevereiro de 1978, foi retirada a Notificação que proibia a proclamação nova forma do culto da Misericórdia Divina. “Esta S. Congregação, tendo em vista os muitos documentos originais, desconhecidos em 1959; considerando que as circunstâncias variaram profundamente e contando com o parecer de muitos Ordinários polacos, declara que as proibições contidas na citada “Notificação” não obrigam doravante.”
“Escreve que dia e noite o Meu olhar repousa sobre ele e, se permito essas contrariedades, é só para multiplicar os méritos dele. Não recompenso pelo bom êxito, mas pela paciência e pelo trabalho suportado por Minha causa.”
Jesus. Diário, 86.
“Haverá tantas palmas na sua coroa quantas almas se salvarem por essa obra.”
Jesus. Diário, 90.
“Aos pés de Jesus estava o meu confessor e atrás dele um grande número de altos dignitários com vestes que, a não ser nesta visão, nunca antes havia admirado. E, atrás destes, havia membros das diversas Congregações e Ordens religiosas; mais além, grandes multidões, que a minha vista nem conseguiu abarcar. Observei também os dois raios a sair da Hóstia, tal como na Imagem, unindo-se intimamente, embora sem se confundirem, que passavam pelas mãos do meu confessor, depois pelas mãos dos outros membros do clero, e destas à multidão, voltando em seguida à Hóstia… e, nesse instante, vi-me na cela, como se mal tivesse acabado de entrar”.
Santa Faustina. Diário, 344.
Fonte: http://www.jesus-misericordioso.com/pt/padre-miguel-sopocko-biografia.htm
Direitos autorais reservados © Congregação das Irmãs de Jesus Misericordioso
© Tradução: Prof. Mariano Kawka, Mariana Biela